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Suicídio LGBT – O assunto que ninguém quer falar

Dados importantes sobre esse problema que assola a nossa população

Ninguém gosta de abordar assuntos sobre suicídio, mas a saúde mental das pessoas anda muito abalada nos dias atuais, principalmente se a pessoa for LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti e Transexual) que sofre discriminação dentro e fora do seu lar, vivenciando atos de preconceito e as vezes sendo vítima de pais violentos que não aceitam a sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

Apesar de no Brasil e em outros países da America Latina haver poucos estudos sobre a saúde mental de pessoas LGBT, em países como a Inglaterra, as organizações civis como Stonewall têm realizado estudos com estatísticas dos suicídios dentro da comunidade LGBT. Nesses estudos foi descoberto que 3% dos homossexuais e 5% dos bissexuais tentaram cometer suicídio, enquanto que da população masculina em geral foram 0,4%. Um em cada dezesseis homossexuais com idade entre 16 e 24 anos tentou tirar a sua vida, enquanto 1% dos homens em geral da mesma idade tentou o mesmo.

Outra estatística importante que esse estudo revelou foi que 1 de cada 14 homossexuais e bissexuais tentaram o suicídio, enquanto 1 em cada 33 homens em geral tentaram acabar com suas vidas. Nessa pesquisa, 50% dos homossexuais entrevistados sofreram violência dentro de suas próprias casas, através de seus familiares.

Em 2012, a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, realizou um estudo sobre a relação entre a orientação sexual e o suicídio entre jovens. Os resultados mostraram que os homossexuais têm mais probabilidade de praticar o ato. Além disso, a pesquisa concluiu que o local de convívio social também exerce bastante influência – ambientes mais abertos à homossexualidade apresentam menos casos de suicídio.

Cerca de 32.000 jovens anônimos participaram do estudo, os dados analisados pela equipe são provenientes de uma pesquisa anual realizada pelo estado do Oregon, a Oregon Healthy Teens Survey. Os participantes são alunos de escola púbica entre 13 e 17 anos. Com base nas respostas dos jovens, a pesquisa concluiu que a probabilidade de um homossexual cometer suicídio é cinco vezes maior do que um jovem heterossexual.
Porém, o ambiente em que o jovem convive pode fazer muita diferença. Os adolescentes que vivem e estudam em locais que aceitam melhor gays e lésbicas têm 25% menos probabilidade de tentar suicídio do que os ambientes mais repressores. Estudos anteriores apontam que o suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos nos Estados Unidos.

De janeiro a novembro deste ano, o site “Quem a homofobia matou hoje” que registra os crimes que acontecem com as pessoas LGBTs registrou poucos casos de suicídio de homossexuais assumidos, as estatísticas ainda são fracas, pois não se tem números dos homossexuais não assumidos, e é justamente nestes casos onde se há maior número de chances de um LGBT cometer suicídio, pois o fato de ter sua sexualidade reprimida somado com o preconceito e todos os conflitos na cabeça destes jovens os levam há um estado de depressão, fazendo com que tirem sua própria vida, mas isso não se torna estatística.

É preciso que eles assumam a sua orientação sexual para que os órgãos responsáveis tomem alguma providência e que a sociedade saiba e denuncie como mais um suicídio de LGBT, porém, não é fácil assumir a sua orientação sexual em uma sociedade tão preconceituosa.

Em janeiro deste ano, a cantora e ícone LGBT Lady Gaga teve que intervir através de sua rede social chamada “Little Monster”, onde um de seus fãs brasileiros chamado Will Nascimento relatou que sofria discriminação por parte de sua mãe que é evangélica e em tom de despedida deixou claro que iria cometer suicídio. A cantora logo entrou em contato e declarou amor ao seu fã, e pediu para que ele não fizesse isso, e explicando que as vezes as pessoas não tem compaixão. O jovem ficou tocado e repensou sobre dar fim a sua vida.

“Os dois últimos anos na minha vida têm sido um inferno. Desde que me assumi para minha mãe, ela tem me dito coisas horríveis. Sou chamado de drogado, prostituto, obsceno, promíscuo, demoníaco e condenado ao inferno todos os dias… pela pessoa que mais amo na vida! Toda a minha família me aceitou, menos minha mãe, que é evangélica e extremamente religiosa. Ela esfrega a bíblia na minha cara toda hora e me faz me sentir mal” relatou o jovem na rede social.

Segundo o sanitarista e  pesquisador em Saúde LGBT pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba) Roberto Maia, em João Pessoa capital da Paraíba, não é muito diferente a discriminação com pessoas LGBT, o machismo e a homofobia existentes na sociedade fazem a cada dia mais e mais vítimas.

“Há alguns anos percebo essa tentativa frequente com alguns amigos que passaram por esse problema, teve um que me chamou mais atenção que foi o namorado de um amigo que a família dele não aceitava a sua sexualidade e o mesmo morava sozinho.  Ele só havia namorado esse meu amigo, depois de um tempo a relação acabou e ele se viu sozinho aqui em João Pessoa, e se enforcou no banheiro da casa dele. A família colocou a culpa no meu amigo, pois não admitiram que sempre excluíam o jovem desde que se assumiu gay, ou seja, além do rapaz tirar a própria vida, a família que sempre o excluiu, ao invés de acolher o namorado, eles o ameaçaram.” Conta Roberto Maia que também é Professor em Saúde Coletiva.

“Acredito que esse machismo e essa negação da sexualidade do outro são fatores determinantes na saúde mental da população LGBT, pois as pessoas que não tem orientação heteronormativa se sentem fora do vínculo familiar e querem de qualquer maneira sair desse desconforto onde as tentativas de suicídio são recorrentes.” Finaliza Roberto que desde 1990 desenvolve atividades como militante do SUS (Sistema Único de Saúde) e recententemente no SUAS (Sistema Único de Assistência Social).

aviso do tumblr

A rede social Tumblr também ajuda pessoas com pensamentos suicidas, ao pesquisar a palavra “Suicide” no microblogging, o usuário acessa uma página de aviso questionando se ele ou alguém conhecido está tendo pensamento suicidas e pedindo para que liguem para o CVV (Centro de Valorização da Vida) pelo número 141.

O CVV é uma das organizações não-governamentais (ONG) mais antigas do Brasil, criada no ano de 1962 por um grupo de voluntários, foi reconhecida como entidade de utilidade pública federal em 1973. Sua atuação baseia-se essencialmente no trabalho voluntário de milhares de pessoas distribuídas por todas as regiões do Brasil.

A organização é associada ao Befrienders Worldwide, entidade que congrega instituições de apoio emocional e prevenção do suicídio em todo o mundo. Em 2004 e 2005 fez parte do Grupo de Trabalho do Ministério da Saúde para definição da Estratégia Nacional para Prevenção do Suicídio. Sua principal iniciativa é o Programa de Apoio Emocional realizado pelo telefone, chat, e-mail, VoIP, correspondência ou pessoalmente nos postos do CVV em todo o país, o serviço é gratuito.

Willamys Guthyers
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Willamys Guthyers

• Joralista • Ativista LGBTQIAPN+ • Copywriter • Analista de Marketing Digital

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